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A teia

27/5/2018

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Gestos de escrita literária provêm da força criadora que habita o interior dos artistas da palavra: uma imperiosa vontade de materializar aquilo que antes é o puro vapor do pensamento. Mas as ideias e formas que infernizam a vida do escritor se originam muito antes, elas vêm da transmissão natural e imprescindível da cultura. Os bons escritores devem, antes de tudo, serem bons leitores, ou seja, precisam se relacionar com o mundo dos signos já postos — e depois decodificar e transformar esses signos em matéria própria.
 
Há uma dupla relação dos escritores com suas leituras. De chofre, leem para alimentar a alma, o espírito; leem para sentir êxtase, pois é um hábito de prazer erótico, calibra o corpo e a mente, gera um conjunto de pulsações. Leem também para pesquisar: observar as formas, atentar para a construção das palavras; leem para inspirar a própria escrita, criar uma ponte com um Outro que escreve, para afirmar ou negar a escrita deste, absorver o que for necessário para a própria lida.
 
Na obra de alguns autores, as referências literárias ficam bastante evidentes, espraiando-se nas areias do texto. Na de outros, estão enterradas, bem escondidas, distantes de qualquer analogia fácil. De um jeito ou de outro, não podemos ignorar que a escrita literária é uma grande teia de textos que alimenta a si mesma, formando o mundo sensível das palavras. Enredar-se nessa teia é tarefa dos escritores. É no trabalho de escrita que passado, presente e futuro se cruzam, estalam, fundindo subjetividades e elementos culturais de vários lugares.
 
Assim, por exemplo, se processa obra poética de um nome como T. S. Eliot. O escritor utilizou múltiplas referências para compor “The waste land”, ou “A terra inútil"  – “[...] incluindo Shakespeare, mitologia grega antiga e até mesmo o diálogo coloquial de sua primeira esposa e sua empregada na época”[1]. Ele lançou mão, portanto, das mais diversas leituras para construir o poema que, hoje, é considerado por alguns críticos como o mais importante do século XX. Outro exemplo é o do francês Gustave Flaubert, autor de clássicos como Madame Bovary, que, em suas cartas, costumava descrever as inúmeras leituras que fazia, ao nível da exaustão, para desenvolver suas obras; a criação de um parágrafo às vezes lhe requeria várias semanas de profundas e várias leituras sobre este ou aquele tema.
 
Enredar-se na teia dos textos significa, para quem escreve artisticamente, mas também para qualquer um de nós, fazer da vida um grande texto, da existência uma obra, aproximando-nos de nós mesmos e do mundo. O mundo lido e o mundo vivido se complementam.


[1] Disponível em: <http://www.bernytan.com/art/a-visual-guide-to-references-in-ts-eliots-the-waste-land-1922/>.
 

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    Joice Nunes

    Graduada em Letras, revisora de textos e escritora. Estou sempre com um livro nas mãos, desde criança. Tenho a palavra escrita  como algo fundamental em minha vida. Se isso não for amor, não sei o que mais poderia ser. :)   

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