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Escrever bem: o que é, como se faz

12/9/2020

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O que é um bom texto? Bom, a resposta depende de algumas questões, como intenção, contexto e destinatário. Os recursos utilizados em um texto formal serão diferentes daqueles usados em texto informal, por exemplo. Então, talvez devêssemos falar que um "bom" texto é, na verdade, um texto adequado. Claro que não existe fórmula mágica, receita definitiva. Regras não fazem bons escritores, mas existem recursos que levam a acertos e mostram o que é possível evitar na construção textual. Ao dominar tais mecanismos, quem escreve terá, inclusive, condições de quebrar as regras que queira, mas sabendo por que está fazendo isso.
Assim, a  proposta do curso Escrever bem: o que é, como se faz é apresentar técnicas básicas e princípios gerais de um bom texto, independentemente do gênero. Durante as aulas, faremos apresentações teóricas e demonstremos, a partir de exemplos práticos, como um texto pode ser lapidado.

PROGRAMA
Aula 1 - Escrita competente - orientações gerais.
Aula 2 - Os caminhos e descaminhos do bom texto: ambiguidade, vocabulário, parágrafos, redundâncias, eliminações, termos a serem evitados etc.
Aula 3 - Reescrever e revisar: como fazer isso?

As inscrições devem ser feitas no link https://bityli.com/TrdRi 

Formas de pagamento: PicPay.
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March 27th, 2020

27/3/2020

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Em Cem anos de solidão (1967), o escritor colombiano Gabriel García Márquez desfia para os leitores uma narrativa composta por inúmeros personagens. A família de que trata o livro, os Buendía, são descritos em cinco gerações, sendo necessária muita atenção do leitor para não se confundir em meio a tantos nomes. Embora tenha essa abundância de personagens, o romance é fluido e sedutor, um verdadeiro clássico da literatura latino-americana.
 
Anos antes, em 1916, o irlandês James Joyce publicara Retrato do artista quando jovem, romance de formação que trata da infância e juventude de Stephen Dedalus. Apesar de ser uma obra que retrata muito bem questões sociais, políticas e culturais da Dublin do começo do século XX e de possuir vários personagens, passamos a maior parte do tempo dentro do espaço psicológico do protagonista, Stephen Dedalus. Na verdade, o romance é uma imensa investigação desse personagem durante seus anos de aprendizagem, até o desembocar na vida artística. Livro considerado revolucionário na investigação literária da mente de um personagem, a obra é também um clássico universal.
 
Ambos os romances têm uma consideração pública bastante firmada, embora sejam completamente diferentes em seus métodos de composição. Uma diferença fundamental, e que gostaríamos de tratar aqui, é o trato com os personagens. Cem anos de solidão tem em Úrsula Iguarán como fio condutor, mas nenhum personagem é tão profundamente investigado, pois o referido texto não é um romance psicológico, embora algumas características psicológicas tenham sua vez; é mais uma história sobre uma família, um lugar e um tempo. Talvez Macondo, cidade imaginária que abriga a história, seja a grande personagem do romance. Aqui importa o desenrolar dos fatos e o correr dos anos, conduzindo os leitores à investigação da paisagem e da trama. No romance de Joyce, passamos a maior parte do tempo dentro da cabeça de Stephen, conhecendo seus pensamentos e sentimentos. Por meio da técnica do fluxo da consciência, o autor traça a estrutura psicológico do personagem, fazendo da narrativa uma viagem pela subjetividade do jovem artista. Os outros personagens têm sua importância na ação, pois vão disparar temas e pensamentos em Stephen, mas jamais serão investigados psicologicamente como o protagonista.
 
Você que está em dúvida sobre como estruturar seu romance em relação aos personagens precisa entender que qualquer escolha deve ser feita previamente. Planejar é fundamental. De que trata seu romance? É um estudo de personagem? Fala de um lugar, primordialmente? O foco é sobre a ação ou sobre o mundo psíquico e sensorial dos personagens? Responder a essas questões é importante para definir o tratamento que se deve dar aos personagens. A priori, não há regras rígidas para essa operação: o mais importante é respeitar o planejamento feito e ter consciência das escolhas formais.
 
Quando se escreve um romance muito longo, há espaço para muitos personagens e é possível desenvolver mais um de um deles psicologicamente, mas se você planeja um romance de tamanho médio ou pequeno, vai ser difícil dar densidade a número maior. Bons romances são aqueles que têm equilíbrio na condução da linguagem e do ritmo. Podem não ter densidade psicológica, mas possuir outro tipo de profundidade, como é o caso de Cem anos de solidão.
 
Se você estiver mais propenso a desenvolver um romance de ação, com muitos personagens e rapidez na condução dos fatos, a dica é listar todos eles, traçar características (mesmo que nem todas eles fiquem explícitas no texto), definir a função de cada um na narrativa e o destino deles. Há personagens, como os figurantes, que vão terminar o romance da mesma forma como começaram, mas há os protagonistas e coprotagonistas, que podem se movimentar bastante ao longo do texto. Como eram no começo e como terminam? São perguntas que, se respondidas previamente pelo escritor, tendem a facilitar a escrita.
 
Traçar a biografia dos personagens também nos parece uma boa estratégia, embora nem todos as partes de suas vidas possa aparecer no romance. Isso pode ser importante para não entrar em contradições ao longo do texto. É preciso anotar datas, fatos marcantes e analisar se a ação está coerente com os personagens (este personagem agiria dessa forma? Tomaria essa decisão?). 
 
O intuito deste texto é apontar que é importante se ter controle sobre o texto narrativo, domá-lo e mantê-lo na rédea curta. Planejamentos, anotações, organização de referências e storyboards podem ser úteis nessa imensa e hercúlea tarefa que é a construção de um bom romance.
 
 
 
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Conheça as mudanças na NBR 6023:2018

28/9/2019

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Temos novidades em 2019 no que se refere às regras para os trabalhos acadêmicos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) — a instituição que oficialmente sistematiza as normas e os parâmetros para a produção, comercialização e o uso de bens e serviços, incluindo-se aí os documentos, práticas e que pertencem ao ecossistêmica acadêmico e universitário — sempre atualiza suas normas, a fim de que estejam mais adequadas às mudanças na sociedade. Fiquemos com um exemplo: recentemente, nos fins de 2018, o órgão confeccionou alterações na NBR 6023, que trata de um aspecto de fundamental importância para qualquer trabalho acadêmico: as referências bibliográficas.

Segundo as novas regras, as listas de referências, antes alinhadas à margem esquerda, com espaçamento simples, separadas entre si por um espaço duplo, passam a ser separadas por uma linha em branco de espaço simples. As famosas expressões In, et al. e [S.I.], que poderiam ser grafadas de forma natural, só podem, a partir de então, ser colocadas em itálico, assim como é feito com as expressões estrangeiras. Os links de websites, cada vez mais comuns nas referências bibliográficas, agora não precisam mais vir entre os símbolos de abertura e fechamento “<” e “>”.

Algo muito importante na citação de trabalhos acadêmicos é a obrigatoriedade de inclusão do nome do orientador, seja de TCC, dissertação ou tese. Também novidade na NBR 6023 é a inclusão do tratamento de referências a redes sociais, como Twitter e Facebook, já que cada vez mais esses espaços virtuais são fontes de pesquisa e requerem tratamento adequado para citação.

Os autores entidade, como uma universidade, por exemplo, não precisam mais ter seus nomes escritos por extenso, podendo valer a forma como são apresentados no documento, comumente pela sigla. Quando se trata da referenciação de eventos, agora acrescenta-se colchetes nas reticências que indicam anais.

Essas são as principais mudanças na NBR 6023. Sugerimos a consulta da própria norma, a fim de se conhecer todas as alterações feitas. Um bom resumo delas, e com direito a exemplos claros e objetivos, pode ser conferido neste link do Portal de Periódicos da UFSC: http://periodicos.paginas.ufsc.br/files/2018/11/Altera%C3%A7%C3%B5es-ABNT-NBR-6023_2018.pdf
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Excessos de um texto

22/5/2019

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A literatura é das práticas artísticas mais próximas do nosso cotidiano. Só precisamos mesmo de caneta, papel e boas ideias para fazermos a palavra tornar-se arte. Por ser criativa e materialmente de fácil execução, o texto literário traz consigo algumas armadilhas que perturbam o andamento do mesmo, tornando-o incongruente ou menos legível.

Consideramos que o trabalho com o texto literário deve se pautar pelo apreço a técnica, que vem justamente a dar forma a todas as subjetividades e intenções dos autores. Primeiro vem a emoção, depois a técnica. Tanto na prosa como na poesia, os autores precisam atentar para diversos detalhes de construção, a depender do projeto textual. É importante, assim como para textualidades de outras naturezas, planejar antes de escrever.

Um dos pontos-chave que exemplifica o que estamos comentando é a gordura textual, ou seja, o excesso de palavras no texto. É claro que as construções literárias não precisam ser necessariamente objetivas ou prosaicas, como é o caso de um texto jurídico ou informativo, mas mesmo os recursos poéticos ou estilísticos precisam ser bem elaborados, de modo a não parecem excessivos em relação ao que se planeja. Há textos que, de fato, se propõem longos, desafiando a permanência dos leitores com eles, mas é preciso diagnosticar a necessidade de palavras e trechos, pensando na dialética entre o conforto de quem está lendo e as vontades estéticas de quem escreve.

No caso da prosa, e principalmente da construção de textos mais longos, como romances, é preciso esquematizar bem as informações, para que não sejam acidentalmente repetidas. As descrições excessivas ignoram, em alguns casos, a capacidade imaginativa dos leitores. Deve-se sempre mediar a ocorrência das descrições com o mistério provocado pela falta delas, o que estimula quem está lendo a imaginar situações, personagens e cenários.


Na poesia, a tentação do uso de diversos recursos estilísticos é grande, mas deve-se ter cautela, sob risco de uma perda de controle na confecção do texto que acabe por prejudicá-lo. As construções poéticas precisam estar alinhadas com o propósito textual, evidenciando um controle por parte dos autores, o que confere firmeza e consistência à produção.

Estas formas de compreensão de atividade textual não devem, entretanto, reduzir o potencial criativo das obras. Todas as dicas no sentido de operar com a redução dizem respeito à manutenção de elos entre autores, textos e leitoras, balanceando o uso dos recursos estilísticos com a objetividade literária. Assim, evitamos problemas de ritmo com os textos e asseguramos sua legibilidade. 
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Uma conversa sobre autopublicação

7/12/2018

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Todas as eras e ciclos do mundo civilizado sofreram impactos na divisão do trabalho e na organização dos modos de produção. Com nosso atual momento, não seria diferente. O desenvolvimento digital está mudando a forma como nos relacionamos com as coisas e com as pessoas — e a forma como lidamos com tudo aquilo que produzimos e consumimos. Parece ter se esfacelado a linha divisória que havia entre quem produz e quem consome: hoje qualquer um pode se aventurar no mundo da produção de ideias e coisas. Atualmente, a filosofia do “faça você mesmo” influencia pessoas no mundo inteiro a colocarem seus projetos à frente: os empreendedores do presente e do futuro não são mais aqueles cuja narrativa se assemelha a de um herói, numa missão quase divina rumo à conquista de objetivos; hoje qualquer um pode percorrer uma jornada como empreendedor. Esses novos pensamentos relacionados ao mundo do trabalho também influenciam a cadeia produtiva dos livros e publicações de cunho literário.

Não mais recorrer aos grandes grupos editorais, que por sua vez concentram todas as tarefas relacionadas à produção editorial e também à distribuição, mas publicar você mesmo: a autopublicação é a bola da vez no cenário literário. Vários autores estão realizando publicações independentes, responsabilizando-se quase integralmente pelas etapas que geralmente fazem parte do processo editorial. O longo caminho entre autores e leitores está cada vez curto; isso porque muitos desses novos autores estão também dedicando-se à venda das obras. 

Todo esse movimento começou certamente nos anos de 1990, com a popularização da internet e dos blogs. As pessoas que não tinham dinheiro para publicar seus textos recorriam às plataformas virtuais gratuitas. Era comum, e até moda, possuir uma página pessoal na internet, assim como hoje é praticamente um consenso o uso de algum tipo de rede social. Para os escritores de cunho literário, foi uma grande oportunidade mostrar se trabalho, formar redes de contato e gerar público. Para muitos, a tela do computador, do tablet e do celular não é suficiente: eles querem chegar fisicamente aos leitores.

Ainda é preciso alguma grana para publicar, mesmo que se opte por formatos de baixo custo, como fanzines ou livros em papel jornal. Mas o controle sobre o processo de publicação fica nas mãos dos próprios autores, cabendo às gráficas só mesmo o imprimir. Nem todos os autores dominam todas as funções que fazem parte desta cadeia produtiva. Até os leitores, a obra passa pela edição, preparação e revisão textuais, indo depois para sua produção como objeto: ilustração (caso haja), design, diagramação, escolha de tamanhos, papéis etc. A maioria dos autores que se autopublica funcionam apenas como managers desse processo, contratando no meio do caminho profissionais que deem conta de cada um desses aspectos.

É raro que autores que não recorram a esses profissionais consigam ter em mãos, ao final do processo, uma obra de irrepreensível qualidade técnica. Isso porque, por trás de cada uma dessas funções, estão saberes e conhecimentos específicos, constituídos por meio de estudo e prática. As funções de edição, preparação e revisão de texto são feitas, geralmente, pelo profissional de Letras. Um só profissional de Letras é capaz de dar conta de atuar nessas atividades, mas o autor deverá valorizar esse profissional, remunerando-o adequadamente para cada uma dessas funções.

No caso da autopublicação, o processo de edição não funciona como numa editora comum, onde há uma política bem definida, normas a serem cumpridas, certos esquemas de padronização que perpassam por todas as publicações da casa. Os autores independentes têm mais liberdade para tomar decisões sobre um ou outro aspecto da sua própria obra, e o relacionamento com editores freelancers deve ser de muito diálogo. A revisão é a tarefa mais importante na qual profissional de letras vai atuar, porque ele se constitui como um “outro” necessário à correção da obra (salvo questões específicas e às escolhas literárias) do ponto de vista da Língua Portuguesa. Há também o leitor sensível, aquela pessoa que vai fazer uma leitura da obra do ponto de vista político e cidadão, tratando de ver se respeita minorias e não é ofensiva a determinados setores sociais.

É importante reconhecer a força dos autores independentes no meio literários de hoje. Estão vendendo seus livros e ganhando prêmios. Essa é uma modalidade de publicação que está atraindo aqueles que estão com vontade de tirar os escritos para fora da gaveta, incentivando cada vez mais a publicações de obras literárias. Para que a missão de se autopublicar tenha êxito, é preciso contar com as pessoas certas, ter muita disposição para lidar o mercado e ser criativo na hora de vender o peixe. Trata-se de um processo que carece de muito foco e esforço, mas essa aventura também pode ser bastante deleitosa.




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Nossos amigos, os dicionários

5/9/2018

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​São muitos os livros que podem colaborar no trabalho de preparação, edição e revisão de textos. Os profissionais das letras não podem prescindir de seu uso, pois tais publicações representam importantes ferramentas de manejo técnico e estético, constituindo-se como formas de correção e aperfeiçoamento dos textos.

Talvez o dicionário seja o mais importante e popular desses livros. Há vários tipos de dicionários, para usos em situações distintas. O mais comum é certamente o geral, aquele que faz a compilação parcial ou total das unidades lexicais de uma língua e informa o significado das palavras. Ele é comum em muitas residências e ambientes de aprendizado, sendo muito utilizado para consultas rápidas. Pode ser encontrado em versões on-line e em edições físicas menores, com redução no número de verbetes, para uso no ambiente escolar.

Os dicionários de sinônimos e antônimos, por sua vez, elencam palavras assemelhadas ou opostas a um determinado termo. São muito usados para evitar a repetição de uma palavra, colocando-se no lugar dela sinônimos. Às vezes, até mesmo para experientes escritores, falta uma palavra para se encaixar na situação verbal — e o dicionário de sinônimos pode ajudar nessa tarefa, assim como indicar termos de sentido contrário.

Os etimológicos são aqueles que descrevem a historicamente a formação das palavras. Apesar de alguns dicionários gerais trazerem a datação de alguns termos da língua e a formação lexical das palavras, existem dicionários que exploram essas informações mais profundamente, tornando-se grandes materiais de referência para quem deseja saber mais sobre o desenvolvimento histórico das palavras.

Não podemos deixar de citar os dicionários técnicos, que dão significado de palavras que fazem parte do universo de algumas áreas do conhecimento, como Artes, Comunicação, Ciências Agrárias, entre outras. São várias os ramos de estudo e atividade que possuem uma complexidade linguística própria, tornando necessário um material que dê conta de informar o significado de palavras e expressões (ou jargões) pertencentes a essas áreas.

Os dicionários de línguas propõem correspondências entre palavras em idiomas distintos. Mesmo que sejamos falantes de línguas estrangeiras, às vezes precisamos consultar uma ou outra palavra correspondente, simplesmente porque é praticamente impossível se ter conhecimento sobre todo um idioma.

Enfim, podem ser muitas as variações dos dicionários, mas eles sempre serão separados por verbetes com o objetivo de abordar o significado, a história ou o uso de palavras e expressões, com ou sem contexto específico. É importante frisar que há muitas divergências entre dicionários, na maioria das vezes referentes à grafia de certas palavras, já que representam o conjunto do pensamento e a sistematização da língua sob determinado viés e vindos de diferentes rumos de pesquisa — o que nos faz lembrar que as línguas são organismos vivos em constante transformação, vividos e analisados de formas diferentes. A estrutura dos dicionários também pode ser aplicada em diversos projetos de escrita literária, aproveitando a disposição em verbetes — e não raro temos contatos com dicionários amorosos, afetivos, entre outros, que exploram temas e se constroem a partir de uma ordem e de uma significação.

A área da Linguística que estuda os dicionários é a lexicografia. É claro que não precisamos — nós quem trabalhamos com os textos — ser lexicólogos para usarmos os dicionários, mas devemos ter neles uma companhia necessária para o trato com a matéria verbal. São os melhores amigos na atividade aparentemente solitária da escrita e do trabalho com os textos.




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A teia

27/5/2018

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Gestos de escrita literária provêm da força criadora que habita o interior dos artistas da palavra: uma imperiosa vontade de materializar aquilo que antes é o puro vapor do pensamento. Mas as ideias e formas que infernizam a vida do escritor se originam muito antes, elas vêm da transmissão natural e imprescindível da cultura. Os bons escritores devem, antes de tudo, serem bons leitores, ou seja, precisam se relacionar com o mundo dos signos já postos — e depois decodificar e transformar esses signos em matéria própria.
 
Há uma dupla relação dos escritores com suas leituras. De chofre, leem para alimentar a alma, o espírito; leem para sentir êxtase, pois é um hábito de prazer erótico, calibra o corpo e a mente, gera um conjunto de pulsações. Leem também para pesquisar: observar as formas, atentar para a construção das palavras; leem para inspirar a própria escrita, criar uma ponte com um Outro que escreve, para afirmar ou negar a escrita deste, absorver o que for necessário para a própria lida.
 
Na obra de alguns autores, as referências literárias ficam bastante evidentes, espraiando-se nas areias do texto. Na de outros, estão enterradas, bem escondidas, distantes de qualquer analogia fácil. De um jeito ou de outro, não podemos ignorar que a escrita literária é uma grande teia de textos que alimenta a si mesma, formando o mundo sensível das palavras. Enredar-se nessa teia é tarefa dos escritores. É no trabalho de escrita que passado, presente e futuro se cruzam, estalam, fundindo subjetividades e elementos culturais de vários lugares.
 
Assim, por exemplo, se processa obra poética de um nome como T. S. Eliot. O escritor utilizou múltiplas referências para compor “The waste land”, ou “A terra inútil"  – “[...] incluindo Shakespeare, mitologia grega antiga e até mesmo o diálogo coloquial de sua primeira esposa e sua empregada na época”[1]. Ele lançou mão, portanto, das mais diversas leituras para construir o poema que, hoje, é considerado por alguns críticos como o mais importante do século XX. Outro exemplo é o do francês Gustave Flaubert, autor de clássicos como Madame Bovary, que, em suas cartas, costumava descrever as inúmeras leituras que fazia, ao nível da exaustão, para desenvolver suas obras; a criação de um parágrafo às vezes lhe requeria várias semanas de profundas e várias leituras sobre este ou aquele tema.
 
Enredar-se na teia dos textos significa, para quem escreve artisticamente, mas também para qualquer um de nós, fazer da vida um grande texto, da existência uma obra, aproximando-nos de nós mesmos e do mundo. O mundo lido e o mundo vivido se complementam.


[1] Disponível em: <http://www.bernytan.com/art/a-visual-guide-to-references-in-ts-eliots-the-waste-land-1922/>.
 

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Edição, preparação e revisão de texto nos diversos gêneros

13/4/2018

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Já vimos aqui no blog as diferenças entre os processos de edição, preparação e revisão de texto; como cada uma dessas fases é importante para a circulação e recepção adequadas das produções textuais. Mas não podemos cair nas armadilhas de utilizar essas ferramentas de operação sem que observemos atentamente as origens, intenções e características de cada texto. Em resumo, é preciso agir conforme o gênero do material.

Os gêneros textuais são formas em que a linguagem já se estabilizou socialmente. O artigo de opinião, por exemplo, tem uma estrutura mais ou menos consensual, é bastante conhecido do grande público, trata-se de um acontecimento linguístico relativamente fixo. Podemos falar o mesmo da carta, grosso modo uma mensagem escrita com individual ou coletivo, e citar o conto — que, pequeno ou grande, é uma narrativa com um só núcleo dramático.

Cada gênero pede sua forma de operar. As produções técnicas, como manuais de instruções e textos jurídicos, por exemplo, não podem abrir mão da objetividade e da correção linguística em acordo severo com a norma culta. Podemos dizer isso também das obras científicas, incluindo artigos, monografias, dissertações e teses.

Muitos textos que não têm esse perfil técnico também precisam estar de acordo com as normas, mas não com tanto rigor. Há muitos livros que, embora falem sobre assuntos de modo sério, podem tomar certas liberdades, como o uso de uma linguagem mais informal, procurando se aproximar dos leitores. Nesses casos, também é preciso que os profissionais do texto operem atentos a cada situação, procurando conter distorções, equilibrar os elementos linguísticos e prezar pela mecânica de fluidez dos textos.

Os gêneros literários gozam de certa liberdade tanto em relação ao ritmo quanto às questões gramaticais e ortográficas, pois estão no território da arte. Precisam, portanto, passar por adequações mediadas entre autores e profissionais de textos para atingirem seus propósitos — até para sabermos se esta ou aquela liberdade linguística é proposital. Autores brasileiros como Carlos Drummond de Andrade e Guimarães Rosa usam e abusam de recursos expressivos e licenças poéticas, essenciais para o efeito desejado e que não passariam incólumes a uma revisão convencional.

Fica, então, a mensagem de que é a partir dos gêneros e das condições de produção e circulação dos textos que vamos aplicar corretamente as estratégias de edição, preparação e revisão. As noções de certo e errado, adequado e inadequado, ausente ou excessivo estão relacionadas às especificidades de cada texto.








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A (nem sempre fácil) relação entre autores e editores

26/3/2018

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As funções de autoria e edição em um texto são, teoricamente, bem definidas. Como os nomes mesmo apontam, o autor é aquele que escreve; já o editor tem a função de trabalhar o texto escrito, para que este fique adequado aos fins propostos. Parece bem fácil quando dito dessa forma: cada um cumpre adequadamente o papel que lhe cabe e pronto! Mas, ao nos aproximarmos bem de um processo edição, vamos perceber que ele não é tão linear e tranquilo quanto parece.


Primeiro é preciso considerar que nem sempre autores e editores possuem o mesmo pensamento sobre os textos: ideias e procedimentos podem ser distintos, o que talvez torne menos fluido o diálogo entre os profissionais. Deve haver afinação temática e conceitual entre quem escreve e edita um texto. Por exemplo, se o editor encomendou uma obra com tom leve e parcimonioso e a autora entregou uma história densa e sofrida, é bem possível que haja uma tensão entre ambos. Um outro exemplo pode ser o da adaptação de uma tese de doutorado para publicação em livro, quando uma editora e um autor entraram em conflito quanto à linguagem empregada no texto. 


Há também questões específicas sobre trechos e palavras que fazem parte das escolhas do escritor e das quais ele não quer abrir mão. Um caso para exemplificar: o autor utiliza uma expressão que, segundo o editor, pode ofender certos grupos sociais. Enquanto o editor, o responsável pela publicação do texto, é prudente em relação à expressão, o autor defende com veemência a manutenção da frase tal como está, alegando a capacidade dos leitores de discernir se o termo é ou não violento a pessoas e grupos. 


O relacionamento entre autores e editores parte do pressuposto que as intenções para com as obras sejam semelhantes e que cada um tem a oportunidade de discutir questões até que sejam suficientemente dirimidas. É desse precioso diálogo que eventuais dissensos podem ser resolvidos, com soluções que vão contribuir com a legibilidade do texto. Os autores precisam lembrar de que a responsabilidade pela publicação é dos editores, são eles que possuem os meios para fazer os textos chegarem aos leitores, enquanto os editores devem estar conscientes de que entre as suas funções não está a de autoria.


Podemos considerar, portanto, que há uma política editorial que deve envolver cada processo de publicação. Essa política envolve diversas competências — lembremos também da revisão e da preparação de texto — e precisa, necessariamente, abrir espaço para o diálogo sobre cada aspecto da publicação: das mínimas estruturas, como a da palavra, até as questões que envolvem a estrutura dos capítulos e a supressão ou reescrita de trechos. Para que o processo seja o mais harmônico possível, principalmente entre autores e editores, cada um precisa reconhecer corretamente sua função, estar pronto para a escuta e utilizar critérios e argumentos razoáveis para a defesa de seus pontos. O equilíbrio do processo editorial vai se refletir positivamente na obra. 
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Não acaba quando acaba: a produção editorial de livros

18/10/2017

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​Por Sávio Alencar

 
No imaginário dos mais desavisados, pode parecer que livros surgem espontaneamente, por brotamento, como ocorrem a algumas plantas. Mas a origem das páginas impressas ou digitais que lemos diariamente não corresponde a um processo tão... natural.

Há muito trabalho por trás das brochuras, e diversos profissionais estão diretamente envolvidos em uma atividade que pode se estender por meses. A produção editorial, de ficção (romances, contos, novelas) e não ficção (livros didáticos, informativos, de autoajuda), prevê um processo específico, em que várias etapas se realizam até chegar o momento em que o livro, enfim, encontrará o seu leitor.

Pela própria “invisibilidade” que cerca as práticas dos profissionais do livro – que, muitas vezes, só conhecemos por ficha técnica ou colofão, se por acaso lembramos que esses gêneros também existem para serem lidos –, as etapas que compõem a produção editorial, normalmente, são “anônimas ilustres” para a maioria das pessoas. Elas variam de acordo com a natureza ou a proposta da publicação, mas, em geral, podem ser reunidas sob um denominador comum.

Pensando em dar visibilidade a esse trabalho que por vezes é deixado para trás na medida em que passamos as páginas dos livros, listo quatro etapas fundamentais para uma produção editorial comprometida com um bom resultado e, sobretudo, com a inteligência do leitor.
 
Leitura crítica
Concluído o texto por parte do autor, é hora de ele ser apreciado por outra pessoa, normalmente alguém que tenha familiaridade, experiência com o assunto tratado. leitura crítica prevê uma avaliação do texto em que se considera a adequação de conceitos, valores, juízos, linguagem, abordagem, estilo... sem intervenção direta na escrita do autor. O leitor crítico prepara o terreno para a atuação do editor.
 
Edição
De posse da avaliação do leitor crítico, o editor já tem para si algumas questões sinalizadas (às vezes, também em forma de um parecer elaborado pelo profissional que lhe antecede) e que precisam ser resolvidas durante a edição. É o momento de intervir no texto, respeitando o projeto do autor e em diálogo com ele. São equacionadas as questões que envolvem tanto aquelas apontadas pelo leitor crítico quanto as que o próprio editor identifica, já que cada leitura é pessoal, parcial e, por isso mesmo, nunca definitiva. Objetividade, clareza e fluência do texto são qualidades que a edição deve assegurar.
 
Preparação
Hora de deixar o texto apresentável ao mundo. No baile de debutante das letras que é a preparação, o profissional responsável por essa etapa, o preparador, responsabiliza-se por adequar o texto a convenções ortográficas, gramaticais, sintáticas, identificando e corrigindo os deslizes naturais que as leituras anteriores (leitura crítica e edição) deixaram passar. Ele também segue as instruções de guias, manuais de estilo e formatação da casa publicadora ou de outra instituição (faculdades e universidades, por exemplo, concebem suas normas de acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas).
 
Revisão
  1. Preparado e diagramado (uma etapa que merece um post a parte), o texto que vem sendo produzido ganha sua primeira “cara” de livro. Até então, todos os profissionais (leitor crítico, editor e preparador) trabalhavam preferencialmente no arquivo original, um documento do Word, por exemplo.
  2. Agora, cabe ao revisor verificar se as intervenções indicadas no processo, especialmente na preparação, foram aplicadas corretamente na prova tipográfica – é o que se chama de cotejo
  3. Depois, realizando uma leitura silenciosa (a sil, como o jargão editorial a batizou), o profissional poderá, então, intervir na prova (daí o revisor de provas), atendendo aos critérios que norteiam a correção textual em geral. Numa produção editorial de larga escala, essa etapa pode se repetir, já que cada revisão precisa cotejar a que lhe antecedeu. Há editoras que trabalham com três revisões, por exemplo, de modo que ela se encerra com a terceira prova tipográfica.
 
Como se percebe, todas as etapas são interdependentes, e o resultado de cada uma, para ser satisfatório, depende da qualidade do trabalho anterior. Preferencialmente, devem ser realizadas por profissionais distintos, na medida em que cada leitura tem suas especificidades e varia de acordo com tais e tais questões. Mas não é impossível que um único profissional possa executá-las, especialmente no caso dos freelancers. Ao contrário do que se pode imaginar, o livro não acaba quando o autor decide pôr o ponto-final da última frase. A história pode ter terminado no universo da ficção, mas, no da edição, ela só começou.
 
A Papel Ofício pode ajudar a contar a sua. Vamos juntos?
 

 

 


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    Joice Nunes

    Graduada em Letras, revisora de textos e escritora. Estou sempre com um livro nas mãos, desde criança. Tenho a palavra escrita  como algo fundamental em minha vida. Se isso não for amor, não sei o que mais poderia ser. :)   

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