Peço perdão pela paráfrase já gasta, mas gostaria de começar esse texto assim: um espectro ronda as editoras, o mundo acadêmico e as agências de publicidade (nem falemos das redações de jornais, pois já fomos extintos desses espaços há bastante tempo) – o espectro do revisor de textos. Eu gostaria de dizer que somos amados e odiados, mas, infelizmente, não são muitas as energias amorosas enviadas para esse profissional. Se alguma coisa dá errado, creiam, a culpa nunca é do mordomo, mas do revisor. Se tudo dá certo, creiam também, ninguém se lembra do pobre coitado que passou dias e noites trabalhando com esmero em um texto, observando, atento, questões de estilo, sintaxe, ortografia, o escambau.
O fato é que isso acontece porque a maioria das pessoas não sabe como o revisor de textos desenvolve o seu trabalho e quais são os limites de sua atuação. Afinal, o que ele faz? Ele só passa o corretor ortográfico do Word e se dá por satisfeito? Por que fala coisas estranhas do tipo “preparação de originais”? O que são essas marcas vermelhas no texto? Assim, resolvi responder a algumas dessas grandes questões da humanidade – e eu sei que elas tiram o sono e o sossego de vocês. Na verdade, vou falar um pouco para vocês sobre como é o meu processo de trabalho, pois cada revisor tem seus métodos próprios para revisar um texto. É importante afirmar que a revisão é uma das etapas mais críticas e cansativas (sim, é verdade) em todo documento escrito. Deve, obviamente, deixar o seu autor satisfeito, mas também os destinatários, o público-alvo. O distanciamento que tal profissional tem em relação ao texto é fundamental para que os equívocos e as lacunas possam ser observados cuidadosamente. Isto posto, vou falar de 4 etapas que eu sigo para fazer uma revisão de qualidade – lembrando que trabalho com a ajuda de toda sorte de livros de apoio, como dicionários de regência verbal e nominal, de sinônimos e etimológicos, manuais de ortografia, gramáticas etc. 1 – Antes de tudo, eu aciono o controle de alterações, a fim de que o cliente possa ver tudo o que foi modificado no texto. Em seguida, faço uma espécie de “limpeza” no material: eliminação espaços desnecessários, correção das margens de acordo com a padronização solicitada pelo cliente, formatação em relação a espaçamento entre linhas, fontes, recuos de parágrafos, padronização de notas de rodapé etc. 2 – Depois, passo para a fase da correção ortográfica e gramatical. Na primeira leitura, obviamente, corrijo os erros mais “gritantes”, e somente na segunda leitura, mais acurada, eu me atenho às questões mais dificultosas. 3 - Se no orçamento o cliente opta pela preparação de texto, o trabalho é ainda mais profundo, pois é preciso observar questões de clareza textual, coesão, coerência e precisão semântica. Para saber mais sobre esse processo, clique aqui. 3 – À medida que reviso o texto, deixo as dúvidas registradas em balões de comentários, e depois de conversar com o autor sobre elas, faço as alterações necessárias. 4 – Feita a revisão, passo para a formatação (se o serviço tiver sido incluído no orçamento). Nessa fase, padronizo as citações longas (com mais de três linhas) e as que aparecem dentro do texto, checo referências, uniformizo notas de rodapé, indicativos de seção, alíneas, epígrafes, figuras, tabelas e quadros, paginação. Enfim, tudo o que for exigido pelas normas da ABNT ou pelo manual enviado pelo autor. 5 – Clico em F7 e deixo que o Word passe o “pente fino” para que não sobre nenhum “pastel”, palavrinha utilizada pelos revisores que se refere aos pequenos erros que escaparam à revisão. 6 – Terminado o trabalho, eu salvo o arquivo em duas versões, uma com controle de alterações – para que o cliente veja tudo o que foi feito – e uma versão “limpa”, e é nela que o autor deve trabalhar. É claro que o trabalho é bem mais recheado de detalhes. Esse post foi escrito apenas para dar a você, leitor, uma ideia geral de como eu, particularmente, trabalho. Se alguns de vocês têm curiosidade de saber quais são os livros que eu uso nas minhas pesquisas diárias, aí vai a lista: Dicionário prático de regência verbal - Nova Ortografia – Celso Pedro Luft Dicionário prático de regência nominal – Celso Pedro Luft Gramática Houaiss da língua portuguesa – José Carlos de Azeredo Escrevendo pela nova ortografia – José Carlos de Azeredo (org.) Grande manual de ortografia – Celso Pedro Luft Decifrando a crase – Celso Pedro Luft ABC da língua culta – Celso Pedro Luft Dicionário de sinônimos – Antenor Nascentes Manual da boa escrita – Maria Tereza de Queiroz Piacentini O livro - preparação e revisão de originais – Henry Saatkamp Nova gramática do português contemporâneo – Celso Cunha e Lindley Cintra A construção do livro – Emanuel Araújo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
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Muita gente não sabe, mas acontece: nós, (bons) revisores, também recusamos trabalho. E não é porque a gente esteja por cima da carne seca, como se diz. Na verdade, a pilha de boletos não para de crescer. Isso acontece por muitos motivos: falta de tempo, trabalho acumulado, o fato de trabalhar exclusivamente para si e – isso mesmo – o preço que (não) querem pagar.
Essa não é uma pergunta muito fácil de ser respondida. Na verdade, eu precisaria contar um pouco do meu percurso acadêmico e pessoal para, então, explicar o que me trouxe até aqui. Este é um relato curto, sem delongas, senão vocês correriam o risco de dormir na metade da leitura.
A resposta deveria ser óbvia, mas a verdade é que muitas pessoas ainda não entenderam a importância desta etapa na produção de um livro ou texto acadêmico, e é por isso que a profissão de revisor(a) de textos é, muitas vezes, desvalorizada.
Ao ingressarmos na universidade, um novo mundo se abre para nós. São tantos autores, tantos temas novos que acabamos nos sentindo ansiosos. “Será que eu vou dar conta?”, pensamos.
Por exemplo, quando ingressei no curso de Letras, isso em 2006, o meu professor da disciplina “Introdução à Linguística” começou, de cara, a ler trechos do livro Curso de Linguística Geral, de Ferdinand Saussure, gênio e precursor de tantas outras teorias que vieram depois (te amo, Ferdy). Você senta na frente do computador. Sua cabeça está fervilhando de ideias e você sente que é agora que vai conseguir produzir seu texto. Quando os seus dedos começam a digitar a primeira palavra, o bichinho da curiosidade começa a cutucar. “Vou dar só uma olhadinha no Facebook para saber quais são as novidades”, você pensa. Quando olha para o relógio, pronto: já são cinco horas da tarde e você mal saiu do primeiro parágrafo. O que fazer? Chorar? Entrar em desespero? Enviar um e-mail para o orientador ou para o cliente dizendo que desistiu de tudo e vai viver do que a natureza dá?
“CALMA, COCADA”, diria o saudoso Rony Cócegas. Para tudo existe uma solução. Você vai conseguir, sim, escrever sua monografia, tese ou dissertação. Porém, você precisa ter foco (peço desculpas pela tão óbvia afirmação). É verdade que as redes sociais e aplicativos podem tirar nossa atenção, mas ao mesmo tempo podemos usar toda essa tecnologia a nosso favor. Listamos aqui três aplicativos que vão te ajudar a melhorar a produtividade! Perdão, impossível: também erramos
Posso começar esse texto dizendo: revisores erram. Posso começar esse texto fazendo menção a algum erro de um revisor que mais tarde se tornaria famoso na cultura livresca ou editorial (eles são muitos; os revisores de Guimarães Rosa, autor de Grande sertão: veredas, que o digam). Posso começar esse texto fazendo menção há algum erro que revisores normalmente cometem. Porque é justamente isso que eles, os erros, são: comuns. É comum que as pessoas que não são da área editorial imaginem que a única forma de intervir em um texto seja através da revisão ortográfica e gramatical. Porém, existe outra tarefa (mais especializada, diga-se de passagem) fundamental para garantir que o texto possa ser apresentado de forma agradável aos seus leitores, e o nome dela é preparação de originais.
Dedicar-se à vida acadêmica requer um relacionamento especial com as fontes de pesquisa, já que elas alimentam a produção do conhecimento. Não se pode ignorar o que já foi anteriormente produzido sobre este ou aquele tema. Mas, o que considerar na hora de elencar fontes de pesquisa para textos científicos, já que parecem ser tantos os caminhos?
Primeiramente, devemos ter em mente que nossas ideias e hipóteses habitam um determinado campo do pensamento. Imagine você, um (a) estudante dedicado (a), que batalhou na graduação para obter as melhores notas, foi monitor (a) de disciplinas, participou de projetos de extensão e pesquisa na sua universidade e escreveu vários artigos que foram publicados em revistas científicas. Tudo com orientação de um (a) professor (a), claro!
Em suma, você foi um (a) estudante mobilizado (a) e interessado (a) na sua área acadêmica, sequioso por leituras que pudessem satisfazer às suas curiosidades teóricas. Você, portanto, é um (a) aluno (a) pesquisador (a). A ciência te apaixona. As teorias te inquietam. Provar um ponto de vista é tão importante para você quanto foi, para Darwin, atestar a teoria da evolução. |
Joice NunesGraduada em Letras, revisora de textos e escritora. Estou sempre com um livro nas mãos, desde criança. Tenho a palavra escrita como algo fundamental em minha vida. Se isso não for amor, não sei o que mais poderia ser. :) Categorias
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Março 2018
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